terça-feira, 13 de setembro de 2011

Aumento do IVA sobre gás e electricidade

"O aumento do IVA (de 6% para 23%) aplicado ao gás e à electricidade a partir de Outubro poderá implicar cortes no aquecimento e até em actividades curriculares em vários estabelecimentos, teme o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Adalmiro Lourenço." (citado pelo Diário de Notícias)


  Já lá vão sensivelmente dez anos, quando comecei a lecionar e foi numa escolinha daquelas no meio do nada no interior de Portugal. O local mais próximo onde arranjei alojamento ficava a aproximadamente 30 km da escola. Todos os dias, bem cedo, subia a serra por estradas de interior, estreitas e esburacadas. Muitas foram as peripécias ao fazer aquele caminho diariamente, mas a melhor de todas foi as aventuras que eu tive que contornar face às condições, quer materiais, quer de instalações, quer económicas da escola.
  Com a manchete de hoje, recordei esses momentos, pensando cá com os meus botões, que:
“Longe vão os tempos…”
  Mais cortes, mais poupança, ora só se fizermos como se fazia à cerca de dez anos atrás em que estava eu numa escola de lugar único, a electricidade era uma lastima (agora é limitada), gás não havia mas tinha um aquecedor relíquia ex libris da escola que ao ser ligado nem o computador dos primórdios dava para funcionar pois o quadro ia abaixo e, o melhor, é que não aquecia nada. Custava ver os meus alunos de casacos vestidos apertados até ao limite, cachecol, gorro e luvas enfiadas, tentando trabalhar e não pensar no frio.
  Naquela altura fiz um oficio a várias entidades a ver se conseguia lenha, dado que existia uma lareira na sala, era uma solução de aquecimento. Tudo podia ser solucionado, se a lenha passo a citar “gentilmente oferecida” não viesse verde e molhada. Levei o meu aquecedor de casa, inútil, deveria consumir mais watts do que o permitido que, mal o tentava ligar ficava sem electricidade.
  Pedi amavelmente aos pais dos alunos se, alternadamente, cediam um tronco ou outro para acender a lareira e assim consegui aquecimento. Muitas foram as vezes que tive que rachar lenha meia hora antes de iniciar as aulas para que quando os alunos chegassem estivesse a sala quentinha e agradável.
  Posteriormente a esta primeira experiência como professor, seguiram-se muitas outras até aos dias de hoje e pensar-se que longe vão os tempos, enganem-se pois por onde tenho viajado, ao longo destes anos, este tipo de situações têm se mantido: ou as escolas não aguentam com tanto aquecedor ligado, ou os aparelhos já dão é faíscas em vez de aquecer, ou como sempre lá levo eu o meu aquecedor de casa.
  Com estas medidas de corte nos aquecimentos só resta, quem sabe: levar o meu aquecedor a gás e pedir aos pais para gentilmente contribuírem com uma botija ou outra; arrancar os painéis solares dos semáforos e inventar um sistema para ter luz na sala a custos económicos, já que a que a EDP fornece é tão cara; exigir que os alunos tragam os Magalhães com baterias totalmente carregadas e trabalhar com eles até onde a bateria funcionar; pelo menos é o que me ocorre por agora.
Em suma…
“Longe vão os tempos… ou talvez não!”


NÃO TARDA MUITO QUE A HISTÓRIA SE REPITA...
Salazar...NOS TEMPOS EM QUE SE ENSINAVA A POUPAR
"Senhor Presidente, hoje não apanhei o eléctrico; vim a correr atrás dele e poupei oito tostões"
- disse o funcionário público, um contínuo, a querer agradar a Oliveira Salazar.

Respondeu Salazar de imediato: "Fez bem, mas se viesse atrás de um táxi teria feito melhor, porque poupava vinte escudos e chegava mais cedo".