Já
lá vão sensivelmente dez anos, quando comecei a lecionar e foi numa escolinha
daquelas no meio do nada no interior de Portugal. O local mais próximo onde
arranjei alojamento ficava a aproximadamente 30 km da escola. Todos os
dias, bem cedo, subia a serra por estradas de interior, estreitas e
esburacadas. Muitas foram as peripécias ao fazer aquele caminho diariamente,
mas a melhor de todas foi as aventuras que eu tive que contornar face às
condições, quer materiais, quer de instalações, quer económicas da escola.
Com
a manchete de hoje, recordei esses momentos, pensando cá com os meus botões,
que:
“Longe
vão os tempos…”
Mais
cortes, mais poupança, ora só se fizermos como se fazia à cerca de dez anos
atrás em que estava eu numa escola de lugar único, a electricidade era uma
lastima (agora é limitada), gás não havia mas tinha um aquecedor relíquia ex
libris da escola que ao ser ligado nem o computador dos primórdios dava para
funcionar pois o quadro ia abaixo e, o melhor, é que não aquecia nada. Custava
ver os meus alunos de casacos vestidos apertados até ao limite, cachecol, gorro
e luvas enfiadas, tentando trabalhar e não pensar no frio.
Naquela
altura fiz um oficio a várias entidades a ver se conseguia lenha, dado que
existia uma lareira na sala, era uma solução de aquecimento. Tudo podia ser
solucionado, se a lenha passo a citar “gentilmente oferecida” não viesse verde
e molhada. Levei o meu aquecedor de casa, inútil, deveria consumir mais watts
do que o permitido que, mal o tentava ligar ficava sem electricidade.
Pedi
amavelmente aos pais dos alunos se, alternadamente, cediam um tronco ou outro
para acender a lareira e assim consegui aquecimento. Muitas foram as vezes que
tive que rachar lenha meia hora antes de iniciar as aulas para que quando os
alunos chegassem estivesse a sala quentinha e agradável.
Posteriormente
a esta primeira experiência como professor, seguiram-se muitas outras até aos
dias de hoje e pensar-se que longe vão os tempos, enganem-se pois por onde
tenho viajado, ao longo destes anos, este tipo de situações têm se mantido: ou
as escolas não aguentam com tanto aquecedor ligado, ou os aparelhos já dão é
faíscas em vez de aquecer, ou como sempre lá levo eu o meu aquecedor de casa.
Com
estas medidas de corte nos aquecimentos só resta, quem sabe: levar o meu
aquecedor a gás e pedir aos pais para gentilmente contribuírem com uma botija
ou outra; arrancar os painéis solares dos semáforos e inventar um sistema para
ter luz na sala a custos económicos, já que a que a EDP fornece é tão cara;
exigir que os alunos tragam os Magalhães com baterias totalmente carregadas e
trabalhar com eles até onde a bateria funcionar; pelo menos é o que me ocorre
por agora.
Em
suma…
“Longe
vão os tempos… ou talvez não!”

NÃO TARDA MUITO QUE A HISTÓRIA SE REPITA...
"Senhor Presidente, hoje não apanhei o eléctrico; vim a correr atrás dele e poupei oito tostões"
- disse o funcionário público, um contínuo, a querer agradar a Oliveira Salazar.
Respondeu Salazar de imediato: "Fez bem, mas se viesse atrás de um táxi teria feito melhor, porque poupava vinte escudos e chegava mais cedo".